A empresa sul-africana Eskom adquiriu cerca de 66% da energia elétrica produzida em 2024 pela Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB), sediada em Moçambique, segundo dados oficiais divulgados esta semana. O volume mantém-se elevado, apesar de a HCB registar o segundo ano consecutivo de quebra na geração de energia, devido a fatores hidrológicos adversos e limitações operacionais.
O fornecimento massivo à Eskom — uma das maiores empresas de energia da África — acontece num momento delicado, em que o Governo moçambicano estuda medidas para reverter o contrato histórico de fornecimento à África do Sul, firmado há décadas, em condições hoje consideradas desvantajosas para os interesses energéticos nacionais.
A Hidroelétrica de Cahora Bassa, localizada na província de Tete, é uma das maiores fontes de energia renovável da África Austral. Ainda assim, grande parte da sua produção continua a ser exportada, sobretudo para a África do Sul e outros países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), deixando Moçambique a lidar com défices energéticos pontuais nas suas zonas rurais e industriais emergentes.
Desde que o Estado moçambicano concluiu, em 2007, a reversão da maioria do capital da HCB para o seu controlo, vozes dentro e fora do governo têm defendido a revisão dos acordos bilaterais de fornecimento de energia, especialmente com a Eskom, que atravessa uma crise energética prolongada e tem sido fortemente dependente da energia hidroelétrica moçambicana.
Apesar das quebras na produção – atribuídas ao prolongado período de seca na bacia do Zambeze e à modernização de parte das turbinas da central – a Eskom manteve a liderança como principal cliente da HCB, em meio à crescente pressão para que Moçambique redefina suas prioridades energéticas no contexto regional.