A esperança começa a erguer-se, tijolo a tijolo, nos quatro cantos mais feridos de Cabo Delgado. A ONU anunciou que, até ao final deste ano, estarão concluídas cerca de 400 casas destinadas a mulheres que perderam tudo devido aos ataques terroristas que assolam a província desde 2017.
As novas habitações vão beneficiar famílias nos distritos de Palma, Macomia, Muidumbe e Chiúre — este último, epicentro da mais recente vaga de violência desde o final de julho. Mas o impacto vai muito além do abrigo: o plano prevê ações de empoderamento económico, permitindo que as beneficiárias criem meios de sustento sustentáveis, quebrando o ciclo de dependência e vulnerabilidade.
“Este projeto não é apenas sobre paredes e telhados; é sobre devolver dignidade, segurança e oportunidades a mulheres que foram obrigadas a reconstruir as suas vidas a partir do zero”, declarou Marie Laetitia, representante da ONU em Moçambique.
Em parceria com o Instituto Nacional de Gestão e Redução de Risco de Desastres (INGD), a ONU ajudou a integrar a perspetiva de género na política nacional de prevenção e resposta a catástrofes climáticas, reconhecendo que as crises — sejam naturais ou provocadas pela guerra — afetam mulheres e homens de forma diferente.
A província, rica em gás natural, enfrenta uma insurgência armada com ligações a grupos extremistas associados ao Estado Islâmico, que desde outubro de 2017 tem espalhado terror e deslocado centenas de milhares de pessoas.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), apenas entre 20 de julho e 3 de agosto, a intensificação dos ataques em Muidumbe, Ancuabe e Chiúre provocou o deslocamento de 57.034 pessoas, equivalendo a 13.343 famílias. Muitas delas caminharam durante dias, com crianças ao colo e poucos pertences, em busca de refúgio.
A situação no terreno continua crítica. O ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, admitiu no final de julho que a nova onda de ataques está a atingir zonas até agora consideradas seguras, obrigando as Forças de Defesa e Segurança a redobrar esforços.
De acordo com o Centro de Estudos Estratégicos de África, apenas em 2024, 349 pessoas já perderam a vida na província devido à violência extremista — um aumento de 36% em relação ao ano anterior.
Ainda assim, entre ruínas e medo, as paredes destas novas casas começam a representar um símbolo palpável de resistência e recomeço. Para muitas mulheres, será o primeiro lar seguro desde que a guerra lhes roubou tudo.