O silêncio pesado que pairava sobre a estrada N380 foi quebrado esta semana pelo ronco coordenado dos motores militares. Após quase um ano suspensas, as escoltas militares regressam com urgência à via que liga os distritos assolados pela violência armada, no coração de Cabo Delgado.
A decisão chega na sequência de novos ataques perpetrados por grupos armados não-identificados, reacendendo o medo entre populações locais, camionistas e comerciantes. A medida foi confirmada pelo Governador da província, Valige Tauabo, depois de um encontro carregado de tensão com empresários e líderes comunitários do norte.
“Estamos a escutar os clamores do povo. A estrada é vida, e garantir a sua segurança é uma prioridade nacional”, afirmou o governador, visivelmente preocupado, na manhã do anúncio.
A Estrada Nacional N380 tem sido, há anos, o epicentro de dramas que contrastam com a promessa de desenvolvimento que ela um dia representou. Caminhões queimados, passageiros desaparecidos e aldeias silenciosas são as memórias que assombram os que nela circulam. Por isso, a retoma das escoltas no dia 23 de Julho é recebida com um misto de alívio e vigilância.
Durante o encontro, empresários do comércio, transporte e construção foram claros: sem segurança, não há investimentos, nem emprego. Muitos confessaram já ter reduzido drasticamente as viagens ou redireccionado negócios para outras províncias.
“Estamos a perder vidas e capital todos os dias. Se o Estado não agir, os mercados vão esvaziar”, desabafou um dos representantes do sector privado.
As escoltas haviam sido suspensas em abril de 2024, numa tentativa de normalização da circulação, após meses de relativa acalmia. Mas a paz revelou-se frágil. Fontes locais falam de ataques silenciosos e deslocações forçadas nos últimos meses, obrigando o Governo a recuar.
A medida é vista agora como um mal necessário, uma ponte entre o medo e a esperança, num território onde a normalidade ainda parece distante.