Depois de três anos de silêncio e frustração, o governo provincial da Educação em Nampula anunciou que vai pagar ainda este ano mais de 50 milhões de meticais em subsídios acumulados dos alfabetizadores voluntários. A promessa chega após reiteradas queixas de homens e mulheres que, apesar de trabalharem na linha da frente contra o analfabetismo, viram-se obrigados a desempenhar a sua missão sem qualquer remuneração.
A província de Nampula, a mais populosa do país, conta com cerca de 85 mil alfabetizadores voluntários que ensinam adultos a ler e a escrever. Muitos deles afirmam sentir-se “esquecidos” pelo Estado, embora a sua contribuição seja considerada vital para a redução da taxa de analfabetismo, que continua a rondar níveis preocupantes em Moçambique.
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De acordo com o Jornal Rigor, durante a visita aos centros de alfabetização, a esposa do governador, Nazira Abdula, ouviu apelos emocionados dos alfabetizadores, que pediram a resolução imediata do problema.
“Há três anos que trabalhamos sem ver um único metical. Temos famílias para sustentar e filhos para educar. Não pedimos luxo, apenas justiça”, desabafou uma alfabetizadora perante a comitiva governamental.
O descontentamento não é apenas financeiro. Para muitos, a falta de reconhecimento mina a motivação e compromete a qualidade das aulas ministradas a milhares de adultos que dependem destes centros para conquistar autonomia na leitura, escrita e cálculo básico.
Confrontado pela imprensa, o director provincial de Educação, William Tunzini, reconheceu a gravidade da situação e admitiu que o problema não é exclusivo de Nampula, mas nacional.
“Não é um caso isolado da província. Tivemos atrasos no segundo semestre de 2023, ao longo de 2024 e, até Julho deste ano, ainda não tínhamos feito pagamentos. Contudo, há agora uma janela aberta no sistema e acreditamos que, ainda este ano, os subsídios começarão a ser pagos, incluindo as dívidas acumuladas”, afirmou Tunzini, tentando transmitir confiança.
Segundo o responsável, a dívida acumulada em Nampula já ronda os 56 milhões de meticais, um valor que o governo central se comprometeu a liquidar.
O atraso nos pagamentos não afecta apenas os alfabetizadores. As consequências são mais amplas, que vão desde a desmotivação dos voluntários até ao risco de abandono do programa de alfabetização, num país onde a luta contra o analfabetismo é essencial para o desenvolvimento social e económico.
Com milhares de adultos ainda sem saber ler e escrever, cada aula cancelada representa uma barreira a mais para o acesso à cidadania plena, à empregabilidade e à participação activa na sociedade.
Enquanto o dinheiro não chega, os alfabetizadores mantêm-se firmes, entre a esperança e a desconfiança. O anúncio é um alívio, mas muitos pedem garantias de que não se trate apenas de promessas adiadas.
