Mais de dois mil alfabetizadores da província de Nampula continuam a lutar por aquilo que consideram ser um direito básico: o pagamento dos seus subsídios. O valor em causa ascende a 56 milhões de meticais, correspondentes a dois anos de atrasos.
Apesar das dificuldades financeiras e do impacto direto nas suas vidas, os profissionais afirmam que não abandonaram as salas de alfabetização, pois veem a sua missão como um compromisso social com milhares de adultos que dependem destas aulas para aprender a ler e escrever.
“Estamos a trabalhar sem receber nada há anos. Não é justo, mas continuamos porque acreditamos que a alfabetização é um pilar para o desenvolvimento da nossa comunidade”, afirmou um alfabetizador entrevistado pelo Notícias de Nampula.
De acordo com a TV Sucesso, o diretor provincial de Educação e Cultura, William Tuzine, reconheceu publicamente a dívida e admitiu que o problema está ligado à escassez de fundos no setor da educação.
Segundo garantiu, já existe sinal verde para o desembolso dos valores, e o pagamento referente a 2023 e 2024 será efetuado entre agosto e setembro deste ano, cobrindo a totalidade dos 56 milhões de meticais em dívida.
“Sabemos do sacrifício que os alfabetizadores têm feito. Felizmente, temos já a indicação de que os fundos foram disponibilizados e a regularização terá lugar nos próximos meses”, declarou Tuzine.
A coordenadora provincial da MASMA (Movimento de Alfabetizadores e Supervisores de Moçambique em Ação), Nazira Abdula, assegurou que a questão será levada ao Conselho Nacional da organização, marcado para a cidade de Lichinga, província do Niassa.
“O caso de Nampula não é isolado, mas é dos mais graves. Vamos levar o assunto a nível nacional para pressionar uma solução definitiva”, garantiu Abdula.
A falta de subsídios não afeta apenas os alfabetizadores. O risco maior é para os programas de alfabetização de adultos, fundamentais para combater o analfabetismo e garantir oportunidades de integração social e económica para milhares de cidadãos.
Organizações da sociedade civil alertam que a desvalorização dos alfabetizadores pode colocar em causa os compromissos nacionais e internacionais de Moçambique no combate ao analfabetismo e na promoção da educação inclusiva.