A sala de aula — espaço sagrado de saber — está a transformar-se num campo de batalha entre gestores escolares, comunidades e alunos. A causa? Taxas ilegais impostas a pais que já lutam diariamente contra a pobreza para garantir o direito à educação dos seus filhos.
Na Escola Secundária do bairro de Cossore, o silêncio habitual das carteiras deu lugar ao som de cadeiras arrastadas, vidros partidos e gritos de revolta. Estudantes, já exaustos das cobranças durante as avaliações — supostamente gratuitas — insurgiram-se contra a direcção. O alvo foi a directora-adjunta pedagógica, agredida em pleno recinto escolar, e a escola ficou parcialmente vandalizada.
O governador Eduardo Mariamo Abdula, visivelmente irritado, declarou guerra aberta contra a corrupção escolar disfarçada de “contribuições”. Numa jogada inédita, convocou para esta segunda-feira (4) uma mesa redonda com representantes da sociedade civil, líderes religiosos, empresários, imprensa, académicos e defensores dos direitos humanos. Um “Governo de Salvação Escolar”, como alguns já apelidaram a iniciativa.
“Não vamos aceitar que ninguém fique fora da escola porque não pagou uma taxa de guarda ou avaliação. Aqui em Nampula, o ensino é gratuito — e ponto final!”, sentenciou Abdula.
A crise é mais profunda do que aparenta: está em jogo o futuro de milhares de crianças e jovens que, entre cadernos gastos e uniformes remendados, ainda acreditam que a escola pode ser a ponte para uma vida melhor.
“Estamos a falar de raparigas e rapazes que já enfrentam muitos obstáculos. O mínimo que podemos fazer é garantir que entrem na escola sem serem extorquidos por taxas inventadas”, reforçou o governador.
A tensão serve como espelho de um sistema sob pressão — onde os professores, muitas vezes sem meios, tentam manter a máquina a funcionar, e onde os pais vivem entre a esperança e o desespero.
A reunião marcada pode ser o ponto de viragem. Ou apenas mais uma promessa num caderno velho de políticas mal implementadas. Mas, para os estudantes de Cossore e tantos outros em Nampula, o recado já foi dado:
“Educação não está à venda.”