A tensão explosiva entre Israel e o Irão atingiu um novo e sombrio patamar quando caças israelitas realizaram um bombardeamento devastador contra a prisão de Evin, uma das mais temidas e icónicas instituições carcerárias do regime iraniano, conhecida por alojar jornalistas, ativistas, advogados de direitos humanos e dissidentes políticos.
O ataque ocorreu durante as horas de visita, momento em que familiares e amigos se reuniam com detidos — um detalhe que transformou o episódio num massacre de civis. Segundo os primeiros relatórios oficiais de Teerão, 71 pessoas perderam a vida, incluindo prisioneiros, visitantes e guardas. Poucas horas depois, a contagem trágica subiu para 80 mortos.
A ofensiva israelita destruiu a entrada sul e norte da prisão, atingiu enfermarias e instalações médicas, e deixou extensas áreas do complexo reduzidas a escombros. A escolha do alvo gerou perplexidade: não há explicação clara sobre o objetivo militar da ação.
A Human Rights Watch (HRW) denunciou o ataque como “ilegalmente indiscriminado”, alegando que não houve qualquer aviso prévio ou tentativa de evacuar civis. “Para piorar, as forças israelitas colocaram em risco pessoas já vítimas da repressão brutal do regime iraniano”, afirmou Michael Page, diretor-adjunto da HRW para o Médio Oriente, à agência Associated Press.
Após a explosão, o caos tomou conta de Evin. Sobreviventes relataram que, durante a evacuação, muitos detidos foram espancados com bastões e submetidos a choques elétricos por protestarem contra o uso de algemas ou por tentarem permanecer juntos a outros presos.
Familiares denunciaram que alguns reclusos desapareceram misteriosamente. Entre eles, o médico sueco-iraniano Ahmadreza Djalali, condenado à morte em 2017 por acusações de espionagem que a comunidade internacional considera infundadas. Até agora, as autoridades recusam-se a revelar o seu paradeiro.
O ataque a Evin ocorreu no contexto da guerra relâmpago travada durante 12 dias, na qual 1.100 iranianos e 28 israelitas perderam a vida. O conflito começou quando Israel atacou instalações nucleares e bases militares iranianas, provocando uma retaliação maciça com centenas de mísseis lançados pelo Irão sobre território israelita.
Construída em 1972, a prisão de Evin tornou-se sinónimo de tortura, interrogatórios brutais e detenções arbitrárias. Para muitos iranianos, ver o seu nome novamente nos noticiários é um lembrete doloroso da dupla opressão: a exercida pelo próprio regime e agora a vinda do ar, em forma de mísseis.
Enquanto as autoridades iranianas tentam reconstruir parte do complexo e transferir prisioneiros de volta, organizações de direitos humanos pedem investigações independentes sobre o ataque e denunciam que o episódio poderá configurar crime de guerra.
A guerra terminou oficialmente no início de julho, mas o ataque a Evin deixou uma cicatriz que, para muitos, jamais se apagará — e um alerta de que, no tabuleiro instável do Médio Oriente, nenhum lugar está fora da mira.