Em plena Caracas, o silêncio das ruas foi rompido na última terça-feira com um cenário de horror: 50 mulheres, mães, irmãs, filhas, unidas numa vigília pacífica pelo direito básico à liberdade dos seus entes queridos presos políticos, viram-se brutalmente atacadas por grupos parapoliciais armados, com a conivência das forças de segurança.
A situação agravou-se nesta sexta-feira, quando Martha Lía Gragales — rosto e voz da resistência, membro da organização Surgentes e incansável ativista dos direitos humanos — foi detida de maneira arbitrária e desapareceu sem deixar rastros.
Nas imediações do Centro Plaza, em Los Palos Grandes, uma carrinha cinzenta sem placas aguardava silenciosa. Sob um ponto de controle montado recentemente, agentes da Polícia Nacional Bolivariana forçaram Martha Lía a entrar no veículo — e desde então, seu paradeiro é um mistério que grita por respostas.
“É um sequestro institucionalizado”, denuncia o Clippve, que com voz de alarme exige “informações imediatas sobre sua localização, condições de detenção e garantias para sua integridade física e psicológica”.
A detenção acontece apenas dias depois que Martha Lía foi atacada fisicamente por grupos armados não identificados, enquanto participava da vigília do Comité de Mães em Defesa da Verdade. A tentativa de buscar justiça encontrou um muro: Ministério Público e CICPC negaram-se a receber sua denúncia.
Enquanto isso, as mulheres que resistem na rua enfrentam não só o medo da repressão, mas a impunidade escancarada. Na noite do ataque, 70 homens encapuzados, armados e violentos avançaram contra as manifestantes, espancando mães, incluindo uma grávida e outra com um bebê no colo, roubando documentos, celulares, e tudo o que pudessem.
A Polícia Nacional Bolivariana e o Grupo de Ações Especiais, presentes no local, simplesmente recuaram, abandonando as mulheres à mercê da violência. O resultado? Pessoas arrastadas pelo chão, perseguidas por quarteirões, silenciadas pela brutalidade e pelo medo.
Hoje, o país amarga mais de 850 presos políticos, vítimas de um regime que prefere o silêncio da tortura e do desaparecimento forçado ao diálogo e à justiça. São civis, militares, homens, mulheres, adultos e até adolescentes — todos pagando o preço de contestar o poder.
Para o Clippve, essa não é uma história isolada, mas parte de um padrão cruel: “Silenciam as vítimas, escondem os ataques e jamais investigam os crimes.”
Mas a voz das mães, de Martha Lía, de tantas outras ativistas, ecoa com força: justiça é o que clamam — e a verdade, o que merecem. Enquanto o Estado segue na perseguição, a comunidade internacional não pode fechar os olhos para essa realidade.
“Responsabilizamos o Estado venezuelano por qualquer dano que possa ocorrer à ativista. Justiça não se constrói sobre o medo, nem sobre a perseguição”, conclui o Clippve.