Um vídeo publicado pelo influencer Felca expondo casos de abuso e exploração de crianças e adolescentes provocou uma verdadeira onda de mobilização online. Em apenas poucos dias após a repercussão, a SaferNet Brasil — organização sem fins lucrativos dedicada à segurança digital e proteção de menores — registrou 1.651 novas denúncias, um aumento de 114% em relação ao período anterior.
A informação foi confirmada à imprensa pelo presidente da SaferNet, Thiago Tavares, que vê no episódio um divisor de águas para a discussão sobre regulamentação de normas de proteção infantil na internet.
“Espero que o tema avance, sem a interferência de paixões políticas”, declarou Tavares. “A continuação desse estado de coisas é inaceitável”, acrescentou.
A publicação de Felca, seguida de forte repercussão nas redes sociais, expôs de forma crua a dimensão do problema e encorajou vítimas e testemunhas a procurarem canais de denúncia. Especialistas apontam que a visibilidade dada pelo influenciador funcionou como um gatilho positivo para quebrar o silêncio que muitas vezes cerca esse tipo de crime.
No entanto, para Tavares, a discussão sobre como regulamentar e responsabilizar plataformas ainda enfrenta barreiras.
“O temor da censura é uma leitura equivocada. Não se trata de derrubar conteúdos indiscriminadamente, mas de criar um arcabouço normativo que obrigue as plataformas a agir ao serem notificadas, caso a caso”, explicou.
O presidente da SaferNet destacou que mais de 200 plataformas na Europa já enviam regularmente relatórios à Comissão Europeia de Direitos Humanos sobre decisões adotadas a respeito de conteúdos nocivos. Esse modelo, segundo ele, mostra que é possível equilibrar liberdade de expressão com proteção efetiva de menores.
“Essas regras funcionam na Europa”, ressaltou Tavares.
Com 11 anos de atuação, a SaferNet é referência nacional no combate a crimes na internet, especialmente aqueles que envolvem abuso infantil, racismo, xenofobia e outras formas de violência digital. O serviço de denúncias anônimas da organização encaminha informações para Ministérios Públicos e para a Polícia Federal.
Somente no último ano, as denúncias recebidas pela SaferNet resultaram na abertura de mais de mil investigações em todo o país. A ONG também atua na educação digital, capacitando pais, professores e jovens para identificar riscos e agir de forma segura no ambiente online.
O aumento expressivo de denúncias traz à tona a urgência de medidas legislativas e ações coordenadas entre governo, sociedade civil e empresas de tecnologia. Especialistas acreditam que, se bem implementadas, regras claras poderão salvar vidas, prevenir abusos e criar um ambiente digital mais seguro para crianças e adolescentes.