Na imensidão azul da albufeira de Cahora Bassa, milhares de embarcações artesanais cruzam diariamente as águas em busca de sustento. Todos os anos, esta importante massa hídrica na província de Tete regista uma média de 16 mil toneladas de peixe diverso capturado pela pesca artesanal, sustentando a economia e a segurança alimentar de milhares de famílias.
Segundo dados revelados esta sexta-feira (08) pela Secretária de Estado em Tete, Cristina Mafumo, a atividade mobiliza cerca de 30.440 pescadores artesanais, que dependem diretamente do lago para sobreviver.
Para além da pesca artesanal, o sector pesqueiro formal emprega na província mais de dois mil trabalhadores permanentes, com uma produção média de 8.882 toneladas anuais.
“A pesca em Cahora Bassa é um pilar para a economia local, garantindo emprego, renda e proteína animal acessível para milhares de famílias”, destacou Mafumo, durante a abertura do Fórum Provincial de Cogestão das Pescarias.
O fórum, que reúne representantes do governo, pescadores, associações e especialistas, decorre nos distritos banhados pela albufeira e tem como objetivo definir políticas de gestão sustentável dos recursos pesqueiros.
A governante alertou para uma preocupação crescente: os impactos das mudanças climáticas sobre a albufeira e as comunidades que dela dependem.
“Nos últimos anos, fenómenos naturais que antes pareciam distantes tornaram-se parte do nosso dia-a-dia. Recentemente, em conversas com pescadores e líderes comunitários no distrito de Mágoè, constatei uma redução significativa do caudal de Cahora Bassa”, relatou Mafumo.
A redução do nível da água afecta a reprodução natural das espécies, diminui a área disponível para pesca e pode agravar conflitos pelo uso dos recursos hídricos, já que a albufeira também é usada para produção de energia elétrica, irrigação e abastecimento humano.
A albufeira de Cahora Bassa, uma das maiores de África, é reconhecida pelo seu ecossistema diversificado, que abriga desde tilápias e bagres até espécies de alto valor comercial. No entanto, o aumento da pressão pesqueira, aliado às alterações climáticas e à pesca ilegal, ameaça o equilíbrio do lago.
Estudos indicam que a sobrepesca e o uso de métodos nocivos, como redes de malha fina, podem comprometer a sustentabilidade do recurso se não forem implementadas medidas de gestão rigorosas.
O Fórum de Cogestão pretende discutir ações como:
- Criação de zonas de pesca controlada;
- Períodos de defeso para proteger a reprodução das espécies;
- Programas de capacitação dos pescadores em técnicas sustentáveis;
- Monitoramento constante do caudal e da qualidade da água.
Cristina Mafumo sublinhou que o objetivo é assegurar que, mesmo diante de desafios climáticos e ambientais, Cahora Bassa continue a ser um pilar da economia pesqueira moçambicana e uma fonte de alimento segura para milhares de pessoas.