O Governo de Moçambique quebrou o silêncio e voltou a acalentar a esperança de milhares de famílias vulneráveis que aguardam, há meses, pelo pagamento dos subsídios sociais de emergência atribuídos durante a pandemia da COVID-19 (também conhecida como Corona vírus).
A garantia foi dada pela Ministra do Trabalho e Acção Social, Ivete Alane, que, em visita a Nacala-Porto, no sábado (17), reconheceu os atrasos mas prometeu que os beneficiários irão, finalmente, receber o montante devido.
“O valor é único, de 1.500 meticais por mês. Sabemos que para muitas famílias este montante é a diferença entre ter ou não comida na mesa. Estamos a acelerar o processo para que os pagamentos cheguem o mais rápido possível”, sublinhou Alane num tom firme.
Segundo a governante, a morosidade não é fruto de desleixo, mas do processo de actualização de dados iniciado em Junho. O sistema digital adoptado para pagamentos – através de carteiras móveis – revelou limitações graves: dezenas de números de telefone fornecidos já não estão activos, pertencem a terceiros ou foram desligados.
“Não podemos permitir transferências indevidas. É preciso garantir que o dinheiro chega à pessoa certa”, frisou Alane, defendendo um trabalho “criterioso e exaustivo” de validação.
Em Julho, brigadas móveis do Instituto Nacional de Acção Social (INAS) foram enviadas a diversos bairros da província de Nampula. O objectivo era confirmar se os beneficiários estavam vivos, residentes e ainda em situação de vulnerabilidade.
No entanto, a acção gerou desconfiança e frustração. Muitos cidadãos interpretaram as visitas como uma forma de ganhar tempo sem compromisso real de pagamento.
“Vieram, fizeram perguntas, tiraram os nossos dados, mas até hoje nada mudou. Estamos cansados de promessas”, lamentou Rosa António, mãe de cinco filhos, residente em Anchilo.
Cada mês de espera aprofunda a crise das famílias dependentes deste subsídio. Em Nampula, Zambézia e Cabo Delgado, relatos de mães e pais são uníssonos: sem o dinheiro, a sobrevivência é posta em risco.
Para muitos, os 1.500 meticais mensais representam a possibilidade de comprar farinha, arroz, óleo e pagar material escolar. A ausência do pagamento tem significado dias de fome, desistência escolar e maior vulnerabilidade infantil.
Ciente da gravidade da situação, Ivete Alane garantiu que a prioridade é restabelecer a confiança.
“A protecção social é um compromisso inegociável do Estado. Estamos a corrigir falhas do sistema e a trabalhar para que ninguém fique para trás. O atraso não significa abandono”, declarou a ministra, sublinhando que a meta é encerrar o processo “sem mais desculpas”.
Num país onde a maioria da população vive abaixo da linha da pobreza, qualquer atraso em subsídios sociais tem impactos devastadores. O desafio do Governo não é apenas pagar o que falta, mas também provar que pode gerir programas de emergência com transparência, eficiência e rapidez.
À medida que o tempo avança e o desespero cresce, aumenta a pressão para que o Executivo converta a promessa em acção concreta. Para milhares de moçambicanos, a esperança não pode mais esperar.