Beira de um impasse energético. A Mozal, uma das maiores indústrias de alumínio da África Austral, está a viver dias de incerteza quanto ao futuro do fornecimento de energia elétrica — o sangue que mantém as suas fundições em funcionamento.
O contrato de fornecimento com a Hidroelétrica de Cahora Bassa (HCB) termina em março de 2026, e as negociações para a sua renovação não têm sido fáceis. No centro do dilema está a tarifa da energia e quem deve gerir a venda: diretamente pela HCB ou via Electricidade de Moçambique (EDM), como agora propõe o Governo.
“Temos vindo a trabalhar com o Governo, a HCB e a Eskom nos últimos seis anos para garantir a continuidade do fornecimento de eletricidade para além de março de 2026, mas ainda não chegámos a um acordo”, lê-se num documento da Mozal citado pelo jornal O País.
A empresa, que representa cerca de 3% do PIB nacional, reconhece que vive um clima de incerteza, o que pode afetar seus investimentos e operações futuras.
O Governo não esconde que quer mudar as regras do jogo. Segundo Inocêncio Impissa, porta-voz do Conselho de Ministros, o objetivo é que a EDM seja o novo braço comercial do negócio, assumindo o papel de revendedora da energia produzida pela HCB.
“Hoje a contratação é feita de forma direta, e o que se pretende é introduzir a EDM como entidade responsável pela comercialização”, explicou.
Apesar da tensão nas negociações, o Executivo garante que a indústria não será deixada às escuras. “Com certeza a Mozal não vai ficar sem energia”, afirmou Impissa, sublinhando que a empresa é estratégica para o país, não só pela produção, mas também pelo emprego de milhares de moçambicanos e pelo peso fiscal.
Desde 1998 em Moçambique, a Mozal tem sido uma referência de investimento estrangeiro, dinamizando o setor industrial e exportador. No entanto, a atual indefinição quanto ao contrato ameaça pôr em causa uma parte importante da estabilidade energética e industrial do país.
Os próximos meses serão decisivos: entre negociações de tarifas, papel da EDM e garantias de fornecimento, o futuro da Mozal dependerá da capacidade de diálogo entre as partes envolvidas — e da rapidez com que o Governo e os parceiros consigam fechar o novo modelo.