Seis dias depois da decisão firme do Município de Maputo, a Praça dos Combatentes — carinhosamente conhecida como Xiquelene — mostrou um rosto inédito: seus passeios limpos, sem a habitual multidão de vendedores informais que todos os dias animavam (e às vezes tumultuavam) o espaço.
A Polícia Municipal tem mantido uma presença constante, garantindo que o lugar fique assim, mas o desafio está longe de acabar. “Durante o dia a ordem é respeitada, mas ao fim da tarde alguns vendedores voltam de forma tímida, quase furtiva, tentando retomar a rotina de vender nas ruas”, conta Arsénia Miambo, porta-voz da polícia. É uma dança diária entre autoridade e sobrevivência.
Enquanto isso, os comerciantes que aceitaram a mudança e passaram a ocupar as bancas oficiais no mercado relatam um cenário duro: poucas pessoas entram para comprar. “É frustrante, o mercado está vazio, e quando não há clientes, a tentação de voltar para as ruas é grande”, desabafa uma vendedeira.
A rua, apesar da proibição, ainda parece o único palco onde suas vozes e mercadorias ganham vida. Entretanto os comerciantes acusam o município de empurrá-los para locais onde o negócio não sobrevive. Dizem que as bancas podem estar legalizadas, mas o movimento morreu. E muitos preferem arriscar o regresso à rua a ver seus produtos apodrecerem em silêncio.
Essa realidade traz à tona o dilema dos informais: a necessidade de ordem e higiene pública versus o direito à sobrevivência num país onde cada dia é uma batalha para milhares.
A fiscalização seguirá firme, mas a solução parece estar muito além de ordens e remoções — é preciso ouvir, apoiar e criar alternativas reais para esses trabalhadores da cidade.
A Polícia garante que a operação vai continuar até que os comerciantes reconheçam, por consciência cívica, a importância de não ocupar os passeios e bermas das estradas. “Estamos a priorizar o diálogo, mas a ordem será mantida”, assegura Miambo.
Enquanto isso, Xiquelene vive um momento de transição, onde o silêncio dos passeios limpos contrasta com a insatisfação de quem luta por sobrevivência no comércio informal.