Um dia após a entrada em vigor da ordem de retirada, os passeios da Praça dos Combatentes, vulgo Xikhelene, na cidade de Maputo, voltam a acolher vendedores informais, desafiando as orientações da edilidade.
À primeira vista, tudo parece em ordem: o trânsito flui, os peões caminham com relativa liberdade, e os agentes da Polícia Municipal marcam presença visível. Mas, num olhar mais atento, percebe-se o que muitos chamam de “retorno silencioso” — vendedores que, de forma camuflada ou estratégica, voltaram a estender os seus produtos nos passeios.
A justificativa é recorrente: “não há espaço nos mercados indicados”. Embora o município tenha orientado os vendedores para locais como o mercado Mucoreano, bancas continuam vazias, tanto lá como em outros 18 mercados da capital. Aparentemente, a promessa de realocação segura e funcional ainda não se concretizou na prática.
Enquanto isso, a Polícia Municipal continua com ações de sensibilização, apelando à saída voluntária. Mas a resistência dos vendedores é firme. Para muitos, trata-se de uma batalha entre sobrevivência e legalidade.
“Temos famílias para alimentar. No mercado não há movimento. Aqui, ao menos, vendemos alguma coisa”, disse uma vendedora que pediu anonimato.
As autoridades garantem que a fiscalização vai continuar e que o objetivo é ordenar os espaços públicos, garantir a segurança dos peões e restaurar a estética urbana. Mas o impasse evidencia desafios estruturais mais profundos: falta de planeamento, fraca atratividade dos mercados formais e ausência de diálogo eficaz com os vendedores.
Por enquanto, a Praça dos Combatentes permanece um campo de tensão velada, onde o ganha-pão diário desafia decretos e rondas policiais.