Empresários Temem Fracasso no Combate à Corrupção em Cabo delgado

76 Views
6 Min Leitura

Jovens empresários da província de Cabo Delgado manifestaram fortes preocupações quanto à eficácia das atuais estratégias de combate à corrupção em Moçambique, alertando que, sem mudanças estruturais e culturais, o esforço anticorrupção poderá terminar em fracasso, arrastando consigo a esperança de futuras gerações.

O alerta foi lançado no âmbito de uma formação promovida pelo Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), que decorreu esta semana na cidade de Pemba, como parte de um esforço nacional para mobilizar a juventude na luta contra um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento do país.

Segundo os participantes, incluindo representantes de pequenas e médias empresas, líderes comunitários e jovens empreendedores, o combate à corrupção ainda é tratado de forma superficial, tanto pelo Governo quanto pela sociedade civil. Muitos acreditam que há um grande abismo entre o discurso oficial e a prática concreta.

“Aqui o assunto de corrupção não está a ser levado a sério. Mesmo nesta formação, nem todos os dados nos são revelados. Há muitas denúncias feitas ao Gabinete Central que continuam sem esclarecimentos, o que deixa a desejar,” afirmou Miguel Selemane, empresário local e ativista cívico.


Para os jovens de Cabo Delgado, o maior problema não é apenas a existência da corrupção, mas a normalização do fenómeno, que já é muitas vezes visto como parte inevitável da vida pública e das relações institucionais. Essa percepção gera apatia e desconfiança entre os cidadãos, dificultando o engajamento coletivo.

Corrupção como entrave ao desenvolvimento local

A província de Cabo Delgado enfrenta enormes desafios — desde os impactos do terrorismo e deslocamento de comunidades, até a exclusão económica e precariedade dos serviços públicos. Numa região onde os recursos naturais abundam, especialmente gás natural, a corrupção é vista como um fator que perpetua a pobreza, mina a confiança nos líderes e impede que os benefícios do crescimento cheguem às populações locais.

“Não faz sentido que continuemos a ver recursos a serem explorados e projetos milionários a serem lançados, enquanto as comunidades continuam sem acesso a água potável, saúde ou oportunidades de emprego. A corrupção está no centro dessa injustiça,” denunciou outro jovem empresário presente na formação.


Falta de transparência e responsabilização alimentam frustração

Um dos pontos mais criticados pelos participantes foi a falta de clareza sobre o seguimento das denúncias feitas à linha de denúncias do GCCC, bem como a ausência de relatórios públicos regulares sobre investigações, processos e condenações. Para os jovens empresários, isso fortalece a sensação de impunidade e reforça a ideia de que “quem tem poder, não é punido”.

Embora o GCCC tenha afirmado, em outras ocasiões, que enfrenta limitações técnicas e humanas, os jovens defendem que o órgão deve comunicar de forma mais clara e proativa com a população, prestando contas sobre os resultados obtidos e incentivando a confiança pública no sistema.

Soluções propostas pelos jovens

  • Os jovens empresários apresentaram propostas concretas durante a formação, como forma de contribuir ativamente para a melhoria da luta contra a corrupção:
  • Criação de observatórios locais da integridade, com participação comunitária e transparência na gestão de recursos públicos;
  • Maior envolvimento das escolas e universidades, com a introdução da educação cívica e ética nos currículos;
  • Campanhas de comunicação pública, que denunciem práticas corruptas e celebrem casos positivos de boa governação;
  • Digitalização dos serviços públicos, para reduzir a burocracia e o contacto direto entre cidadãos e funcionários corruptos;
  • Proteção legal real para denunciantes (whistleblowers), garantindo que quem reporta corrupção não sofra represálias.


O desafio cultural: mudar mentalidades para mudar práticas

A corrupção em Moçambique tem raízes profundas e, como reconhecem muitos analistas e cidadãos, tornou-se parte do “tecido social”, o que torna o seu combate ainda mais complexo. Vencer essa batalha exige, segundo os jovens, não apenas leis e instituições, mas uma mudança de mentalidade coletiva, onde a integridade, a justiça e a responsabilidade sejam valores vividos no dia a dia.

“Não é só uma questão de punir quem rouba, é preciso mudar a forma como as pessoas pensam sobre poder e serviço público. Se não fizermos isso agora, os nossos filhos também vão herdar essa cultura de corrupção,” lamentou Selemane.

Juventude como aliada estratégica na luta por um país mais justo

Apesar da crítica, os jovens empresários de Cabo Delgado afirmam estar dispostos a colaborar com o Governo e instituições como o GCCC, desde que sejam ouvidos, valorizados e incluídos nas estratégias de longo prazo.

A juventude representa mais de 60% da população moçambicana e, como tal, é um pilar essencial na construção de um Estado mais transparente, justo e equitativo. A sua mobilização, senso crítico e capacidade inovadora podem ser o fator que fará a diferença no combate contra um dos maiores males que ainda assola o país.

Partilhar
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *