Na Beira, o ambiente esteve carregado de franqueza e expectativas. Durante um encontro com empresários locais, o Presidente da República, Daniel Chapo, rompeu com a retórica habitual e fez acusações diretas: a falta de divisas em Moçambique não é real, é fabricada pelos bancos.
“Não há uma verdadeira escassez. É uma escassez criada para transformar em oportunidade de negócio. Nunca falta dólar para pagar dividendos ou salários dos gestores. Só falta quando o empresário quer importar”, disparou Chapo.
As declarações surgem como resposta às inquietações apresentadas por Félix Machado, presidente da Associação Comercial da Beira, que apresentou três pontos de destaque: escassez de divisas, corrupção e investimento estrangeiro desregulado.
Machado foi categórico:
“Nenhuma produção avança sem acesso previsível às divisas. Hoje, até transações locais entre bancos levam até 48 horas. Isso trava negócios, afasta investidores e prejudica quem opera dentro da legalidade.”
Além disso, apontou a corrupção como “um imposto invisível que limita o mérito e destrói a confiança”, e alertou que investidores estrangeiros ocupam espaços destinados aos pequenos empresários moçambicanos.
Chapo responde: “A culpa também é do corruptor”
Ao tema da corrupção, Daniel Chapo concordou com a gravidade, mas chamou atenção à dupla responsabilidade:
“O combate tem que ser de todos nós. Tanto o corrupto como o corruptor devem ser responsabilizados”, disse, elogiando a proposta de criação de canais de denúncia digital e reafirmando o papel do recém-criado Ministério da Transformação Digital nesse processo.
Sobre o influxo de capital estrangeiro, Chapo garantiu que o Executivo está a tomar medidas para que os pequenos empresários moçambicanos sejam priorizados, citando o exemplo da cadeia de valor agrícola lançada recentemente em Manica.
“É preciso proteger o investidor nacional, principalmente o pequeno. Se criarmos uma cadeia local antes do produto chegar ao grande centro, estamos a distribuir rendimento e dinamizar a economia”, frisou.
No entanto, o Presidente alertou que qualquer revisão dos critérios de entrada do investimento estrangeiro deverá ser fruto de debate sério, com equilíbrio entre soberania económica e integração global.
O encontro decorreu na cidade da Beira, província de Sofala, com a presença do governador e da secretária de Estado da província, num esforço de proximidade entre Governo central e classe empresarial.