Yokohama foi palco, esta quinta-feira (21), de um dos discursos mais aguardados da 9.ª Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento de África (TICAD 9). O Presidente da República de Moçambique, Daniel Chapo, subiu ao púlpito para defender, com firmeza e visão estratégica, a renovação e consolidação da cooperação entre Moçambique e o Japão, colocando dois pilares no centro da sua intervenção: o Corredor de Nacala e o gás natural liquefeito (GNL) da Bacia do Rovuma.
Com voz confiante, o estadista moçambicano lembrou que Japão e Moçambique já trilharam um longo caminho de parceria, mas que a conjuntura actual exige uma nova abordagem, mais ousada e inovadora.
A TICAD 9 decorre sob o lema “Co-criar Soluções Inovadoras com África”, uma chamada à acção que Chapo não deixou passar despercebida.
“Este lema inspira-nos a transformar desafios em oportunidades partilhadas. Para Moçambique, o Japão é mais do que um parceiro económico: é um aliado estratégico na busca por um futuro de desenvolvimento sustentável e inclusivo”, destacou o Chefe do Estado, arrancando aplausos.
O Presidente frisou que a inovação e a tecnologia japonesas, aliadas ao potencial natural e humano de Moçambique, podem gerar um ciclo virtuoso de crescimento, beneficiando não apenas os dois países, mas também toda a região da África Austral.
No centro da intervenção de Chapo estiveram dois projectos estratégicos.
O Corredor de Nacala, que liga a Zâmbia e o Malawi ao Porto de Nacala, é descrito como uma “espinha dorsal da integração regional”. Para o Presidente, este corredor é mais do que uma via de transporte: é uma porta aberta ao comércio, à industrialização e à conectividade entre países vizinhos.
O gás natural da Bacia do Rovuma, considerado uma das maiores reservas do mundo, surge como a “carta energética” de Moçambique para as próximas décadas. Chapo afirmou que, com apoio tecnológico e financeiro do Japão, o país pode transformar este recurso em energia limpa para o mundo e riqueza sustentável para os moçambicanos.
O estadista recordou ainda que a conferência de Yokohama não é apenas um momento de projeção futura, mas também de avaliação de compromissos passados.
Na TICAD-8, realizada em Túnis (2022), o Japão e os países africanos acordaram investir em infraestruturas resilientes, transição energética e capacitação de quadros. Dois anos depois, a expectativa é verificar até que ponto essas metas foram cumpridas e quais os novos caminhos a seguir.
Chapo insistiu na necessidade de harmonizar a Agenda 2063 da União Africana com a Agenda 2030 das Nações Unidas, reforçando que Moçambique quer alinhar-se com os grandes objectivos globais de crescimento económico, industrialização verde e combate às desigualdades.
A TICAD nasceu em 1993 como uma iniciativa japonesa para fortalecer laços com África. Desde então, transformou-se num palco de decisões estratégicas sobre comércio, investimento e segurança.
Para Moçambique, a relação com o Japão já deixou marcas visíveis: projectos agrícolas, investimentos em infraestruturas, programas de saúde pública e cooperação técnica. Agora, com a entrada em cena de megaprojectos como Nacala e Rovuma, essa parceria promete atingir uma nova dimensão.