O antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, deixou uma mensagem firme aos movimentos de libertação de África, alertando que muitos se afastaram da sua missão original de servir o povo. Falando durante um jantar de gala promovido pelo Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul, Chissano apelou à introspecção urgente e à renovação das políticas.
O evento, realizado na véspera da Cimeira dos Movimentos de Libertação, reuniu líderes actuais e antigos para refletirem sobre o legado das lutas de libertação no continente, num momento marcado por tensões geopolíticas e desafios internos de governação.
Chissano não poupou críticas.
“É crucial reconhecermos que, em muitos dos nossos países, assistimos ao enfraquecimento das instituições democráticas”, afirmou, chamando atenção para a erosão da confiança pública e o crescimento de tendências autoritárias dentro dos partidos que outrora lideraram a luta pela independência.
O antigo estadista destacou que alguns movimentos tornaram-se resistentes à crítica e afastaram-se das suas bases — os mesmos cidadãos que mobilizaram nas lutas contra o colonialismo e a opressão.
“Muitos já não aceitam críticas. Afastaram-se das suas massas”, alertou Chissano, apelando aos partidos de libertação que renovem as suas políticas, se reconectem com o povo e reforcem a governação democrática.
A Cimeira dos Movimentos de Libertação, irá abordar temas como o retrocesso democrático, a inclusão económica e as novas alianças geopolíticas em África.
As palavras de Chissano, proferidas com o seu tom calmo, mas firme, foram recebidas com reflexão e aplausos. Analistas sublinham que a sua voz continua a ter peso, dada a sua reputação como pacificador e democrata que voluntariamente deixou o poder — ainda uma exceção no continente.
Num momento em que África enfrenta o descontentamento crescente da juventude, desigualdades e desafios globais complexos, a mensagem de Chissano surge como um apelo a uma nova visão e liderança moral renovada.