Militantes da Frelimo denunciam lideranças por promoverem discórdia e enfraquecerem o partido

Membros influentes da Frelimo em Gaza acusam dirigentes locais de promover discórdia e enfraquecer o partido. Secretário-geral admite falhas e promete mudanças.

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Ventos de descontentamento sopram no seio da Frelimo na província de Gaza. Esta segunda-feira (04), durante um encontro aberto realizado em Chibuto com o secretário-geral do partido, Chakil Aboobacar, membros influentes de diferentes distritos expuseram, sem rodeios, práticas internas que classificam como destrutivas, alertando que o partido está a perder a sua essência e influência por culpa de lideranças que promovem a exclusão, arrogância e falta de diálogo.

A sessão, inicialmente prevista para reforçar a coesão interna, rapidamente ganhou contornos de desabafo coletivo. Guedes Ubisse, membro destacado do distrito de Chókwè, foi um dos primeiros a intervir, criticando a crescente cultura de intolerância dentro do partido:

“A agitação e a discórdia que se vive no seio da Frelimo em Gaza estão a beneficiar os nossos adversários políticos. Estamos a alimentar o ódio e a intolerância com as nossas próprias mãos.”

O empresário Daniel Dimas, com influência no setor económico, reforçou o tom crítico:

“Gaza não se desenvolve por causa dos seus dirigentes. Temos líderes arrogantes que não permitem sequer que os empresários expressem as suas preocupações. Durante a última visita do Chefe do Estado, fomos impedidos de falar. Não é assim que se governa.”

Outro membro presente, Alfeuane Macamo, do distrito de Chongoene, denunciou a existência de manipulações e fraudes nos processos eleitorais internos da Frelimo, os quais, segundo ele, estão a fomentar divisões perigosas dentro do partido:

“As eleições internas deixaram de ser transparentes. Estamos a ser liderados por pessoas que não representam as bases. Há infiltrados que se aproveitam das oportunidades do partido e marginalizam quem sempre esteve na linha da frente.”

Num gesto raro e visto como sinal de abertura, Chakil Aboobacar reconheceu as críticas, admitindo que alguns dirigentes têm demonstrado resistência ao diálogo e à mudança. Segundo ele, isso contraria o espírito de renovação promovido pelo atual presidente da Frelimo, Daniel Chapo.

“Há dirigentes teimosos no seio do partido. Mas estamos aqui para transmitir-lhes que, no novo perfil de liderança, saber ouvir é uma exigência. A Frelimo passou por problemas mais graves, mas sempre encontrou soluções através do diálogo.”

Chakil sublinhou que está a ser construída uma nova visão partidária, onde a escuta ativa, a participação inclusiva e o respeito pelas bases devem prevalecer sobre o autoritarismo e a vaidade.

“O presidente Daniel Chapo deixou claro que a Frelimo não pode continuar a agir como se estivesse acima do povo. O partido deve voltar às suas raízes: servir, ouvir e unir. Não vamos tolerar mais exclusões ou atitudes que nos afastam da nossa missão.”

Historicamente considerada bastião da Frelimo, a província de Gaza tem vindo a demonstrar sinais de desgaste ideológico e desmobilização, fruto de conflitos internos, falta de renovação e crescente distanciamento entre a base e a elite dirigente. A franqueza com que os membros abordaram os problemas sugere que o partido enfrenta hoje, em Gaza, um dos seus maiores desafios políticos desde o início do processo de transição democrática.

A sessão de Chibuto pode representar o início de uma viragem, mas só o tempo dirá se as palavras proferidas se traduzirão em reformas reais e em maior abertura no seio da Frelimo.

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