Tentativa de encerramento da sede da RENAMO termina em mortes em Nampula

108 Views
3 Min Leitura

A instabilidade interna na RENAMO ganhou contornos sangrentos na manhã desta quinta-feira (24), quando uma tentativa de encerramento forçado da sede do partido na cidade de Nacala-Porto, província de Nampula, terminou em confrontos violentos que, segundo testemunhas, resultaram em dois mortos e sete feridos.

Os relatos colhidos pela reportagem junto de residentes da rua Cahora Bassa, onde está localizada a sede distrital da RENAMO, descrevem momentos de verdadeiro caos. Um grupo de membros e antigos guerrilheiros, insatisfeitos com a liderança de Ossufo Momade, ter-se-á dirigido ao local com o objectivo de encerrar as instalações, acusando a direcção atual de traição aos princípios fundadores do partido.

“Eles chegaram de forma organizada, gritando palavras de ordem contra o presidente do partido. Depois, começaram os empurrões, as agressões com paus e pedras. Foi terrível”, relatou à imprensa uma testemunha ocular que pediu anonimato por receio de represálias.

Apesar da rápida intervenção da Polícia da República de Moçambique (PRM), os distúrbios já haviam provocado vítimas. Sete pessoas foram evacuadas para o Hospital Distrital de Nacala, onde estão sob cuidados médicos. Contudo, a PRM negou oficialmente a existência de mortos, versão que contrasta com os relatos insistentes da população local.

A tensão não é recente. Há semanas que círculos internos da RENAMO têm denunciado publicamente a falta de diálogo, alegada má gestão de fundos do partido e exclusão de antigos combatentes dos processos decisórios. Muitos vêem em Ossufo Momade um líder cada vez mais isolado e contestado internamente.

“Este não é mais o partido pelo qual lutámos. A RENAMO está a ser descaracterizada. Só queremos que a direcção nos ouça”, afirmou um dos manifestantes, visivelmente revoltado.

Fontes ligadas ao partido garantem que a Direcção Nacional está ciente da situação e deverá convocar uma reunião de emergência para analisar os recentes episódios. No entanto, até ao momento, nenhum pronunciamento oficial da RENAMO foi emitido sobre os confrontos em Nacala.

O incidente lança uma nova sombra sobre o processo de consolidação democrática no país, num momento em que Moçambique se prepara para as eleições gerais de 2025. Analistas alertam para o risco de que a escalada de violência interna na oposição possa comprometer a estabilidade política e descredibilizar o processo eleitoral.

A RENAMO, maior partido da oposição em Moçambique, tem enfrentado crescentes tensões internas desde o falecimento do seu antigo líder, Afonso Dhlakama, em 2018. Desde então, a sucessão de Ossufo Momade tem sido marcada por episódios de dissidência, questionamentos da liderança e protestos ocasionais.

Partilhar
Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *