O distrito de Angoche, conhecido pelas suas praias e tradições culturais, vive agora uma realidade sombria que ameaça o coração da sua comunidade.
O aumento preocupante de casos de violência doméstica transformou o que deveria ser um refúgio familiar num cenário de medo e silêncio forçado.
O alerta veio do procurador distrital Rui Mucutueliua, que, com voz grave, descreveu a urgência da situação:
“O número de mulheres e crianças vítimas de violência doméstica está a crescer e precisamos agir antes que seja tarde demais.”
Embora os números exatos não tenham sido revelados, o quadro é claro: agressões físicas, ameaças, abusos psicológicos e casos de violência sexual marcam a vida de muitas famílias.
Estas agressões não apenas ferem a pele, mas destroem a autoestima, corroem a confiança e quebram laços familiares.
A Procuradoria Distrital da República de Angoche, em parceria com organizações da sociedade civil, tem intensificado ações de prevenção e sensibilização. Um dos momentos mais marcantes foi o encontro multissetorial de planificação e coordenação, realizado na última semana, reunindo entidades como a Save the Children e a Associação Ophenta.
O objetivo é claro: proteger as crianças, combater o tráfico de pessoas, travar a migração ilegal e fortalecer as redes de apoio às vítimas. A estratégia inclui campanhas de sensibilização comunitária, formação de líderes locais, e criação de espaços seguros para diálogos francos sobre violência doméstica — espaços onde as vítimas encontram acolhimento e as comunidades encontram informação.
Rumores sobre processos “parados” circulavam pelas comunidades, alimentando a desconfiança no sistema judicial.
O procurador Mucutueliua fez questão de esclarecer:
“Cada caso é tratado de forma individual e não existem ‘casos parados’. A justiça acompanha com rigor todos os processos ligados à violência doméstica.”
Este posicionamento é crucial para restabelecer a confiança na lei e incentivar mais vítimas a procurarem ajuda.
Os parceiros comunitários e as autoridades estão unidos num único apelo: não se cale diante da violência. Denunciar de forma imediata, apoiar as vítimas e envolver toda a comunidade são passos decisivos para interromper o ciclo de agressões.
E, embora os números e as histórias de sofrimento sejam dolorosos, há uma luz no horizonte — a crescente rede de apoio, a mobilização de lideranças e a conscientização da população indicam que Angoche não está disposto a aceitar a violência como parte da sua identidade.
Como disse um ativista local durante a reunião multissetorial:
“Não estamos apenas a combater um crime. Estamos a lutar pelo direito de cada mulher e cada criança viverem sem medo.”