Conflito homem-fauna em Sofala: ataques de elefantes e búfalos

Conflito homem-fauna em Sofala: ataques de elefantes e búfalos obrigam famílias a fugir da Gorongosa

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O drama do conflito entre o homem e a fauna bravia voltou a assombrar comunidades vizinhas do Parque Nacional da Gorongosa, na província de Sofala. A tensão é cada vez maior: de um lado, famílias camponesas que dependem da terra para sobreviver; do outro, animais selvagens que, em busca de alimento e território, transformam aldeias e machambas em cenários de medo e destruição.

Na semana passada, a situação atingiu novos contornos. Quatro pessoas ficaram feridas em Matenga, no distrito de Nhamatanda, após ataques violentos de elefantes, búfalos e hipopótamos. Entre as vítimas está um adolescente de 13 anos, que ajudava os pais na machamba quando foi surpreendido.

De acordo com o presidente do Comité de Gestão dos Recursos Naturais de Matenga, Amade Cadeado, os ataques não são casos isolados. Pelo contrário: tornaram-se reincidentes e imprevisíveis, obrigando muitas famílias a abandonarem as suas casas e a viverem num estado permanente de alerta.

“As investidas de elefantes e búfalos já levaram famílias inteiras a fugir das suas aldeias. As pessoas vivem aterrorizadas, já não conseguem cuidar das suas machambas e temem pelo pior cada vez que o sol se põe”, afirmou Cadeado.

Elefantes destroem plantações em poucas horas, búfalos atacam quando se sentem ameaçados e hipopótamos, muitas vezes vistos apenas como animais aquáticos, revelam a sua agressividade mortal quando confrontados.

A vida agrícola, base da subsistência em Nhamatanda e arredores, está a sofrer duramente. Campos inteiros de milho, mandioca e arroz são devastados em ataques noturnos. Para famílias que dependem exclusivamente da produção da terra, cada incursão significa dias sem comida e colheitas comprometidas.

O medo não se limita às machambas. Muitas famílias abandonaram temporariamente as suas casas, refugiando-se em aldeias mais afastadas, longe das rotas dos animais. Esta migração forçada gera novas dificuldades: fome, falta de abrigo e desorganização social.

A situação já chegou ao topo da agenda das autoridades locais. O governo distrital e a administração do Parque da Gorongosa reconhecem o desafio de equilibrar conservação ambiental e segurança humana.

Entre as soluções em estudo estão:

  • Instalação de barreiras de proteção em zonas críticas;
  • Criação de corredores de migração para reduzir o contacto entre humanos e animais;
  • Programas de sensibilização comunitária para evitar comportamentos de risco.

Mas para líderes comunitários, estas medidas ainda chegam tarde: as populações exigem apoio imediato, tanto em termos de segurança como de assistência alimentar.

O Parque Nacional da Gorongosa é reconhecido internacionalmente como um dos maiores símbolos da biodiversidade em África. Projetos de conservação e reintrodução de espécies transformaram-no num exemplo mundial de recuperação ambiental.

Contudo, esta riqueza natural convive lado a lado com comunidades em extrema pobreza. Para muitos camponeses, a sobrevivência diária fala mais alto do que a proteção da fauna. É o choque entre dois mundos: a necessidade humana de sobreviver versus o instinto selvagem dos animais.

Enquanto não se encontrar um equilíbrio, o conflito homem-fauna bravia continuará a crescer, deixando atrás de si vidas em risco, lares destruídos e comunidades desamparadas.

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