A convivência entre a pressão da economia informal e a necessidade de uma cidade organizada voltou a ser tema central no Conselho Municipal de Maputo (CMM). Esta terça-feira, a autarquia reuniu-se com representantes dos vendedores informais da Baixa da capital, numa sessão marcada por tensões, expectativas e promessas de mudança.
O encontro, conduzido pelo vereador das Actividades Económicas e Turismo, Alexandre Muianga, teve como objetivo conciliar a sobrevivência de milhares de famílias que dependem da venda ambulante com a urgência de reordenar o espaço urbano.
Muianga destacou que o município reconhece o valor do comércio informal como fonte de sustento para muitos lares, mas alertou que a prática não pode continuar de forma descontrolada.
“Estamos conscientes de que o comércio informal garante rendimento a muitas famílias. No entanto, não podemos fechar os olhos à ocupação irregular de passeios, à confecção de refeições em locais inapropriados e à venda de bebidas alcoólicas nas vias públicas. Isso compromete a mobilidade, põe em risco a saúde e mina a imagem da cidade”, afirmou o vereador, num discurso firme.
Para os vendedores, o dilema é claro: sem alternativas concretas, o comércio informal continua a ser a única porta de sustento.
Mira Maria, presidente da Comissão de Vendas do Sector Informal, sublinhou que os comerciantes estão abertos ao diálogo, mas exigem soluções práticas:
“Não basta dizer para não ocuparmos os passeios. Muitos de nós não têm emprego formal e sobrevivem apenas desta atividade. Queremos alternativas reais, espaços organizados e acessíveis para podermos trabalhar com dignidade”, apelou.
O comércio informal é um dos motores invisíveis da economia urbana em Moçambique. Só na cidade de Maputo, milhares de pessoas recorrem diariamente à venda ambulante de produtos diversos – desde frutas, roupas e artigos domésticos, até refeições prontas.
Embora essencial para a subsistência, esta atividade traz consigo desafios urbanos complexos: congestionamento das vias, degradação do espaço público, riscos sanitários e insegurança.
O Conselho Municipal garantiu que este encontro foi apenas o primeiro passo de um processo contínuo de concertação com o sector informal. A aposta é encontrar um equilíbrio entre o direito ao trabalho e o direito à cidade organizada, sem medidas punitivas que agravem a vulnerabilidade das famílias.
Muianga deixou claro que o município pretende “transformar o caos em oportunidade”, aproveitando a força do comércio informal para dinamizar a economia local, mas dentro de padrões que respeitem a mobilidade, a estética e a segurança da capital.