Uma tragédia marcada pela violência e pelo obscurantismo abalou a cidade da Beira. Seis irmãos estão sob custódia policial acusados de torturar e matar a sua própria irmã, Helena Chutale, de 43 anos, depois de serem alegadamente induzidos por uma curandeira a acreditar que ela era responsável por todos os males que assolavam a família.
De acordo com a TV Miramar, o crime bárbaro ocorreu no bairro da Munhava e deixou marcas profundas, não apenas nos filhos da vítima — de 17 e 12 anos — que assistiram à tortura sem nada poderem fazer, mas também em toda a comunidade, que se revoltou diante da 4.ª Esquadra da PRM, exigindo justiça imediata.
Segundo o testemunho da filha mais velha, o cenário foi de horror: os tios amarraram a mãe de pés e mãos, ferveram água e, em seguida, cobriram-na com mantas para que o vapor a sufocasse.
“Gritei por socorro, mas o meu tio deu-me três bofetadas e mandou-me calar, dizendo que a minha mãe era feiticeira. Ajoelhei-me e pedi: ‘Tio, deixem a minha mãe, ela não fez nada’”, contou a adolescente, em lágrimas, ao microfone da Miramar.
A violência prosseguiu até que Helena perdeu os sentidos. Mesmo diante da súplica dos filhos, os agressores mantiveram-na sob tortura, forçando-a a confessar algo que ela negava: a prática de feitiçaria.
Após horas de tormento, apenas os filhos tomaram a iniciativa de procurar ajuda. Desesperados, chamaram um txopela e ligaram ao pai, conseguindo transportar a mãe até ao Hospital Central da Beira.
Helena ainda recobrou os sentidos por breves instantes, ocasião em que revelou a gravidade da situação:
“Não vou sobreviver… vão à esquadra e denunciem o que me fizeram”, disse aos filhos antes de sucumbir às lesões.
A morte da mulher gerou uma onda de indignação. Muitos vizinhos acusaram a curandeira — agora em fuga — de ter manipulado os irmãos, alimentando crenças que culminaram na tragédia.

Os seis implicados encontram-se detidos na 4.ª Esquadra da PRM, aguardando o devido processo legal. Entretanto, a curandeira apontada como instigadora do crime permanece em parte incerta, o que aumenta a revolta da população.
No exterior da esquadra, dezenas de moradores amotinaram-se em protesto, exigindo punição exemplar para os autores e maior combate às práticas obscurantistas que continuam a vitimar inocentes em diversas comunidades moçambicanas.
Até ao momento, as autoridades ainda não apresentaram um pronunciamento oficial sobre o caso, mas fontes próximas indicam que investigações conjuntas entre a polícia e o Ministério Público já estão em curso.