A província de Gaza vive uma onda crescente de vandalismo elétrico que ameaça o fornecimento de energia e expõe falhas graves na segurança das infraestruturas públicas. Vinte postos de transformação (PTs) foram destruídos ou roubados entre agosto e outubro, duplicando o número de ocorrências registadas no trimestre anterior.
As autoridades confirmam que pelo menos 700 famílias estão às escuras no distrito de Bilene, uma das zonas mais afetadas. A Polícia da República de Moçambique (PRM) já detém três suspeitos, considerados líderes de uma rede criminosa que operava entre Gaza e Maputo.
Segundo a EDM – Electricidade de Moçambique, as ações criminosas consistem na remoção de cabos, metais e componentes elétricos dos postos de transformação, posteriormente vendidos a empresas de reciclagem de cobre. As perdas financeiras são avaliadas em milhões de meticais, enquanto as comunidades enfrentam dias sem energia, alimentos estragados e prejuízos comerciais.
“Estamos a viver no escuro. Os congeladores estão desligados e os produtos a estragar-se. Isto tem acontecido com frequência, e é muito preocupante”, relatou um morador do bairro do Aeroporto, em Bilene, onde os criminosos foram surpreendidos por populares.
Durante a operação policial, os agentes localizaram um esconderijo com cabos despedaçados, prontos para transporte à cidade de Maputo, revelando a dimensão e o alcance da rede de vandalismo.
“Vandalizámos os PTs para vender o cobre. Fomos apanhados com o material e torturados pela população”, confessou um dos detidos, reconhecendo o envolvimento em várias incursões noturnas.
O porta-voz da PRM em Gaza, Júlio Nhamussua, confirmou que as investigações apontam para um grupo organizado e bem estruturado, responsável por ataques coordenados em Xai-Xai, Chongoene e Bilene.
“A neutralização destes indivíduos poderá ajudar a esclarecer outros casos semelhantes registados no sul do país. Estamos a intensificar operações para deter todos os envolvidos”, afirmou Nhamussua.
O porta-voz acrescentou que, apenas em Bilene, oito postos de transformação foram vandalizados em dois meses, o que se soma aos 12 destruídos em outros distritos, elevando o total para 20 PTs afetados.
Além do impacto direto na vida das comunidades, o vandalismo tem sérias implicações econômicas e ambientais. A substituição de equipamentos exige custos elevados e longos prazos de reposição, comprometendo a expansão da rede elétrica nacional e a confiança dos investidores no setor energético.
Em resposta, a EDM anunciou o reforço das medidas de segurança e vigilância comunitária, com campanhas de sensibilização junto às populações locais. A empresa apela aos cidadãos para denunciarem atos suspeitos e lembra que o furto de material elétrico constitui crime grave, punível por lei.
“Cada posto vandalizado é uma comunidade que volta à escuridão. A energia é um direito e um bem coletivo, e deve ser protegida por todos”, sublinhou um representante da EDM.
Com os 20 postos de transformação vandalizados, Gaza torna-se a província mais afetada do país por este tipo de crime nos últimos meses, exigindo uma resposta coordenada entre as forças de segurança, o setor energético e as comunidades locais.