Jovem supostamente baleado pela polícia em Nampula

João Júnior, residente em Muhala Expansão, foi supostamente baleado por agentes da PRM em Nampula. Ferido gravemente nos pés, aguarda cirurgia enquanto a família luta com despesas médicas e acusa a polícia de tentar encobrir o caso. ONG exige prisão imediata dos agentes.

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A madrugada da última sexta-feira (15) ficará marcada como um dia negro para a comunidade de Muhala Expansão, em Nampula. Um jovem de apenas 24 anos, João Júnior, viu a sua vida ser brutalmente interrompida quando agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), afectos à 4.ª Esquadra de Nampula, supostamente dispararam contra o táxi-mota em que seguia.

O que deveria ser uma simples deslocação até à paragem da transportadora Nagi transformou-se num episódio de violência gratuita e sem explicação. Na zona de Djaló, relatam que os agentes abriram fogo sem aviso, atingindo João com rajadas certeiras. As balas perfuraram-lhe ambos os pés e destruíram o tornozelo direito, deixando-o à beira de perder a mobilidade para o resto da vida.

Gravemente ferido, João foi socorrido e levado de emergência ao Hospital Central de Nampula, onde permanece internado na Clínica Especial. Os médicos alertaram para a gravidade da lesão: a cirurgia é inevitável e vai definir se o jovem poderá voltar a andar.

Enquanto João enfrenta a dor e a incerteza no leito hospitalar, a sua família trava outra batalha — a batalha financeira. Até agora, as despesas médicas já ultrapassaram 140 mil meticais, valor impossível de suportar para uma família de rendimento modesto.

“Estamos a viver um sofrimento duplo. Primeiro, porque o nosso filho foi baleado injustamente. Segundo, porque a polícia tenta esconder a verdade, registando o caso como simples ‘agressão física’”, lamentou um familiar visivelmente abalado.

A tentativa de encobrimento por parte da PRM revolta ainda mais a comunidade. Para muitos, trata-se de uma estratégia para evitar que os agentes envolvidos sejam responsabilizados criminalmente.

O silêncio da polícia contrastou com a firmeza da sociedade civil. A organização Kóxukhuro, conhecida pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, assumiu a linha da frente na denúncia pública.

O seu diretor executivo, Gamito dos Santos, não poupou palavras:

“Nada justifica o que aconteceu. Os agentes dispararam contra um inocente que apenas se deslocava para o seu destino. Trata-se de uma violação flagrante dos direitos humanos, um crime hediondo contra a vida e contra a dignidade humana. Exigimos a prisão imediata dos agentes envolvidos e a sua responsabilização criminal e disciplinar.”

As declarações de Gamito ecoaram em Nampula e em todo o país, reacendendo o debate sobre os abusos de autoridade e o uso excessivo da força policial em Moçambique.

Apesar da gravidade do episódio, a Polícia da República de Moçambique em Nampula mantém-se em silêncio. Nenhum comunicado oficial foi emitido até ao momento, alimentando ainda mais suspeitas de cobertura interna e impunidade institucionalizada.

Enquanto a PRM opta pelo silêncio, a revolta cresce nas ruas. Moradores questionam:

  • Por que razão os agentes abriram fogo contra um cidadão indefeso?
  • Quem autorizou a operação?
  • Que medidas serão tomadas para garantir que tais abusos não se repitam?

As perguntas multiplicam-se, mas as respostas permanecem ausentes.

João não é apenas uma vítima estatística. É um jovem sonhador, trabalhador, com uma vida pela frente. Em poucas horas, viu os seus projetos pessoais e profissionais serem esmagados pela brutalidade policial. Agora, enfrenta dias de dor, incerteza e esperança numa recuperação que pode nunca ser completa.

A família clama por justiça, não apenas por João, mas por todos os moçambicanos que diariamente enfrentam abusos de poder de quem deveria protegê-los.

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