O bairro de Icidua, em Quelimane, viveu esta manhã momentos de tensão e confronto. Um posto policial foi vandalizado e incendiado por um grupo de moradores, que protestavam contra a atuação da Polícia da República de Moçambique (PRM) durante uma operação contra o contrabando de combustível.
Segundo as autoridades, agentes da PRM, após uma investigação, apreenderam uma quantidade considerável de combustível alegadamente contrabandeado, encontrado numa residência local. A apreensão fez parte de um esforço contínuo para combater o comércio ilegal de combustíveis, prática comum na região costeira, onde se suspeita que produtos sejam adquiridos em alto-mar e introduzidos no mercado interno sem licenciamento.

No entanto, a operação teve um efeito colateral explosivo. Moradores acusaram a polícia de agir de forma seletiva e injusta, poupando, segundo eles, os “verdadeiros fornecedores” do combustível e focando-se apenas nos pequenos revendedores do bairro.
A insatisfação rapidamente se transformou em protesto. Pedras, paus e outros objetos foram arremessados contra o posto policial. Num ato de fúria coletiva, parte da estrutura foi destruída e, no desfecho, as chamas tomaram conta do edifício.
“Eles deveriam ir atrás de quem traz o combustível do mar, não atrás de nós que só compramos para sobreviver”, disse um morador, sob condição de anonimato.
A PRM ainda não divulgou o número de detidos ou se haverá reforço policial no bairro. A operação expõe o delicado equilíbrio entre a aplicação da lei e a tensão social gerada quando atividades ilegais estão enraizadas na economia local.

O comércio clandestino de combustível, frequentemente ligado a redes organizadas, representa um desafio para as autoridades, mas também uma fonte de rendimento para famílias que enfrentam poucas alternativas de subsistência.
Enquanto a fumaça do posto ainda se dissipava, o clima no Icidua permanecia carregado, com moradores divididos entre o medo de retaliação policial e a convicção de que a sua revolta era justificada.
