Quatro pessoas linchadas por suspeita de terrorismo em Cabo Delgado

Populares matam quatro suspeitos de terrorismo em Chiúre. Grupo Naparama é acusado de envolvimento. PRM investiga mortes, incluindo dois soldados das FADM.

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População age por conta própria e mata quatro cidadãos em Cabo Delgado. Autoridades confirmam envolvimento de grupo Naparama e investigam morte de dois militares das FADM.

O distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado, voltou a ser palco de tensão extrema e justiça popular, com o linchamento de quatro cidadãos sob suspeita de envolvimento com grupos terroristas que recentemente atacaram a região, deixando um rasto de morte, medo e deslocamento em massa.

Duas das vítimas terão sido mortas por populares comuns, enquanto as outras duas foram alegadamente executadas por membros dos Naparamas — um controverso grupo de civis armados que afirma combater os insurgentes, operando à margem das forças de segurança oficiais.

A porta-voz do Comando Provincial da PRM em Cabo Delgado, Eugénia Nhamussua, confirmou que o caso está a ser tratado com prioridade pelas autoridades policiais, que já deram início a investigações para apurar responsabilidades.

“Trata-se de actos de justiça privada que não podem ser tolerados. Há suspeitas sérias de envolvimento dos Naparamas, inclusive na morte de dois membros das FADM”, revelou Nhamussua.

A situação tornou-se ainda mais delicada com a confirmação de que dois soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) terão sido alvo de execução sumária pelos mesmos elementos dos Naparamas, no mesmo distrito. Este episódio levanta sérios questionamentos sobre o controlo, os métodos e os limites das acções levadas a cabo por grupos paramilitares em zonas de conflito.

No posto administrativo de Ocua, ainda no distrito de Chiúre, quatro indivíduos foram intercetados pela população enquanto circulavam numa motorizada. A movimentação suspeita levou os moradores a deduzirem que estariam ligados a actividades terroristas. A intervenção popular foi rápida, e embora não tenha resultado em mortes neste caso específico, reforça o clima de insegurança e desconfiança generalizada que impera na região.

A onda de ataques ocorrida nas últimas duas semanas em Chiúre e arredores já provocou a fuga de mais de 11 mil famílias, que se viram obrigadas a abandonar suas casas, lavras e pertenças em busca de refúgio. O pânico generalizado, aliado à ausência de respostas rápidas e consistentes por parte das autoridades, alimentam o ciclo de violência e vingança, onde qualquer estranho pode ser visto como ameaça.

A Polícia da República de Moçambique e o Comando Operacional Conjunto continuam a apelar à população para que não recorra à violência, sublinhando que só as autoridades têm legitimidade para deter e julgar suspeitos. No entanto, em áreas onde o Estado está ausente ou fragilizado, grupos como os Naparamas ganham protagonismo e legitimidade informal aos olhos da população desesperada por segurança.

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