Era para ser apenas mais uma manhã de rotina no posto de controlo de Nboza. O sol mal tinha rompido as colinas de Moatize quando um semi-colectivo de passageiros, carregado de fardos de roupa usada, estacionou para inspeção. Para quem via de fora, parecia um carregamento de “vestuário da calamidade”, supostamente destinado a ajudar famílias de Angónia. Mas, por baixo das camadas de pano, escondia-se um negócio milionário — e ilegal.
Dentro dos fardos, a surpresa: 200 quilogramas de cannabis sativa (vulgarmente conhecido como suruma), prontos para alimentar o mercado clandestino e render quase 6 milhões de meticais a uma rede internacional de tráfico.
Segundo o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), a droga teria saído do Reino de Eswatini e já tinha atravessado vários pontos até chegar à província de Tete, com destino final a Angónia. O transporte foi interceptado graças a uma revista minuciosa e informações de inteligência policial.

“Estas redes operam como autênticas empresas do crime: têm financiadores, transportadores, intermediários e pontos de distribuição. Os detidos dizem ser apenas motoristas, mas as evidências contam outra história”, destacou Celina Roque, porta-voz do SERNIC.
O motorista e o cobrador foram detidos no local, enquanto os verdadeiros donos da carga continuam a monte. Em defesa, os suspeitos afirmam ter recebido a mercadoria de um “cliente” no terminal rodoviário de Tete, com instruções para entregá-la numa pensão em Ulónguè.
Para a polícia, no entanto, a desculpa não convence. “Roupa usada” ou não, o plano estava demasiado bem montado para ser apenas coincidência. A viatura foi apreendida e os passageiros transferidos para outros veículos, encerrando um capítulo amargo para quem achava que poderia driblar a lei pelas estradas moçambicanas.
Esta apreensão entra para a lista das maiores do ano em Tete, e expõe a crescente sofisticação das rotas de tráfico, que aproveitam a mobilidade dos transportes semi-colectivos para tentar passar despercebidas.
