O coração de Maputo pulsa todos os dias com a pressa de quem vai ao trabalho, à escola ou ao mercado. Mas esse ritmo está cada vez mais travado por um problema que se tornou um pesadelo coletivo: a falta de transporte público.
A Empresa Municipal de Transporte Rodoviário de Maputo (EMTPM), outrora referência no transporte urbano, está a enfrentar um colapso silencioso. Dos 90 autocarros disponíveis, 50 estão parados em oficinas ou pátios poeirentos, corroídos por avarias e falta de peças, enquanto apenas 40 circulam pelas ruas — muitos deles em estado crítico, sobrevivendo a cada viagem como verdadeiros guerreiros enferrujados.
“Não conseguimos gerar receita suficiente para comprar peças. Sem peças não há manutenção. Sem manutenção os carros ficam parados. E com menos carros, menos receita entra nos cofres.”
As palavras de Adelino Bucuane, administrador da EMTPM para Operações e Tráfego, soam como um eco de frustração.
A realidade é dura. Os altos custos de reparação e a indisponibilidade de peças no mercado nacional colocam a empresa contra a parede. As oficinas locais, segundo Bucuane, também revelam fraca capacidade de resposta, o que prolonga ainda mais a imobilização dos veículos.
Na tentativa de manter parte da frota em funcionamento, a empresa recorre a peças compatíveis, muitas vezes importadas de forma pontual e sem garantias. É um remendo que adia o inevitável, uma corda frágil que sustenta a mobilidade da cidade.
Se para a EMTPM os números não fecham, para os passageiros a dor é ainda mais concreta. Nas paragens, o cenário é de filas que se estendem por metros, crianças agarradas às mães, trabalhadores exaustos e estudantes desesperados para não perder aulas.
O desconforto dentro dos autocarros que ainda circulam é gritante: viagens superlotadas, calor insuportável, atrasos inevitáveis. Muitos cidadãos acabam empurrados para alternativas caras, como os chapas 100 e mototáxis, ligações, pesando ainda mais no bolso das famílias.
O problema da EMTPM não é apenas mecânico ou financeiro. É um problema social que atinge a dignidade de milhares de cidadãos, comprometendo o acesso ao trabalho, à saúde, à educação e ao lazer.
A pergunta que paira no ar é simples e urgente: quem vai resgatar Maputo do caos no transporte? Será o governo com novos investimentos? Serão parcerias privadas capazes de modernizar a frota? Ou estaremos diante de uma cidade condenada a viver eternamente na incerteza do transporte precário?
Enquanto a resposta não chega, os machimbombos parados são um retrato cruel de uma capital em movimento travado, onde a esperança resiste, mas o tempo e a paciência dos passageiros se esgotam a cada dia.