Numa altura em que a seca severa ameaça o sustento de milhares de famílias, o governo moçambicano, em parceria com organizações de desenvolvimento, lançou um robusto plano de resiliência agrícola na província de Manica, mobilizando mais de 60 milhões de meticais em apoio direto aos produtores afectados pelo fenómeno climático El Niño.
A acção faz parte do programa Mangwana, uma iniciativa estratégica que visa enfrentar os impactos das alterações climáticas, particularmente a escassez de água que tem comprometido severamente a produção agrícola nos distritos de Guro, Macate e Gondola.
“Este investimento não é apenas emergencial. Ele foi pensado para criar condições estruturais de resiliência agrícola, com foco na irrigação, inovação e produtividade”, explicou Augusto Jaime, director do programa Mangwana.
Mais de 207 pequenos produtores e 17 empresas de processamento alimentar foram beneficiados com kits completos de irrigação, compostos por:
- Motobombas,
- Tubagens,
- Tanques de água,
e outros equipamentos adaptados às zonas com pouca disponibilidade hídrica.
A aposta na irrigação tem como objectivo minimizar a dependência das chuvas e tornar a produção mais estável e previsível, mesmo em contextos adversos.
Dados oficiais apontam que 117.000 famílias já sentiram os efeitos da seca severa nesta província central, com perdas significativas nas colheitas de milho, feijão, hortícolas e outros produtos de base alimentar.
A governadora provincial, Francisca Tomás, reafirmou o compromisso do governo em fazer de Manica um modelo nacional de segurança alimentar e produção diversificada.
“Queremos ver Manica a ser referência em batata, cereais, hortícolas e até piscicultura. Os distritos como Barué têm potencial para se transformar em pólos agrícolas. Mas, para isso, é preciso agarrar esta oportunidade com responsabilidade”, disse Tomás, apelando aos produtores para maximizar os recursos recebidos.
Nas comunidades afectadas, o sentimento é de alívio e renovada esperança. Muitos produtores vêem o apoio como uma segunda chance para reconstruir suas fontes de renda.
“Com os tanques e motobombas, poderemos voltar a cultivar mesmo sem chuva. Isto é o que faltava para nós não desistirmos da agricultura”, afirmou Maria Guambe, produtora em Gondola.
Além da distribuição de equipamentos, o programa Mangwana está também a promover formações técnicas em agricultura resiliente, boas práticas ambientais e gestão eficiente da água.
Além de Manica, outras províncias como Sofala e Tete também enfrentam sérias dificuldades devido ao El Niño, fenómeno cíclico que tem causado ondas de calor extremo e chuvas irregulares em todo o sul de África.
As autoridades apelam à mobilização nacional e ao reforço da cooperação entre os sectores público e privado, a fim de criar um modelo de agricultura climática inteligente capaz de garantir a segurança alimentar e nutricional de milhões de moçambicanos.