O Governo moçambicano tomou medidas firmes na sequência do trágico acidente rodoviário que, na madrugada de segunda-feira, tirou a vida a 24 pessoas no distrito da Manhiça, província de Maputo. O Ministro do Interior, Paulo Chachine, anunciou a suspensão imediata da equipa de fiscalização rodoviária que se encontrava de serviço no momento em que o veículo acidentado passou pelos postos de controlo.
Em declarações feitas no local da tragédia, Chachine afirmou que os agentes destacados para o turno da madrugada “não merecem estar naquele posto”, uma vez que permitiram a circulação da viatura antes das 05 horas e 00 minutos da manhã, hora oficialmente definida para o início das viagens interprovinciais.
“Uma das medidas imediatas é retirar toda a força que estava de serviço naquela madrugada, enquanto decorrem as investigações. Não podemos tolerar falhas que custam vidas”, disse o ministro.
O governante sublinhou que a suspensão é temporária, mas necessária para garantir uma investigação rigorosa sobre as responsabilidades no desastre.
O regulamento em vigor estabelece que veículos de transporte interprovincial só podem circular a partir das 05h00. No entanto, o carro envolvido no acidente transitava horas antes desse limite, sem ter sido travado pelas barreiras policiais.
“É preciso trabalhar a fundo para esclarecer porque é que este carro passou sem restrição. Há vidas perdidas e não podemos olhar para o lado”, reforçou Chachine.
O drama da Manhiça não foi um caso isolado. No mesmo dia, outros dois acidentes rodoviários, registados nas províncias de Maputo e Gaza, elevaram o número total de mortos para 35 pessoas, aumentando a pressão sobre o sistema de fiscalização rodoviária.
Em Maputo, o presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Transportes Rodoviários (Inatro), Nelson Nunes, revelou que as primeiras evidências apontam o excesso de velocidade como causa provável do desastre da Manhiça.
“A velocidade excessiva continua a ser o maior inimigo nas estradas nacionais. É uma ameaça que precisamos de combater com educação cívica, fiscalização séria e sanções exemplares”, disse Nunes em conferência de imprensa.
Moçambique enfrenta há anos uma crise de sinistralidade rodoviária que destrói famílias e sobrecarrega os serviços de saúde. Estatísticas revelam que, em média, centenas de pessoas perdem a vida todos os meses em acidentes relacionados a imprudência, más condições mecânicas e falhas de fiscalização.
Especialistas defendem que apenas uma estratégia integrada – que envolva melhor disciplina policial, manutenção das estradas, renovação da frota de transporte público e educação cívica – poderá travar a escalada de mortes.
O Ministro do Interior assegurou que não se trata apenas de punir agentes, mas de reformular a forma como a fiscalização é feita.
“A disciplina rodoviária tem de ser levada a sério. Vamos apertar as regras, reforçar o controlo e salvar vidas. É esse o compromisso do Governo”, concluiu.
Enquanto as famílias enterram os seus entes queridos, cresce a cobrança da sociedade civil para que a tragédia da Manhiça se transforme num ponto de viragem na luta pela segurança rodoviária em Moçambique.