A Associação Moçambicana de Polícias (Amopaip) lançou um alerta contundente sobre o futuro da segurança pública no país. O seu presidente, Nazário Muanambane, afirmou que Moçambique não pode se dar ao luxo de interromper, nem por um único ano, a formação de novos agentes. Para ele, a suspensão de três anos imposta pelo anterior comando da Polícia da República de Moçambique (PRM) deixou marcas profundas no efetivo, prejudicando a capacidade de resposta da corporação diante do aumento da criminalidade, sobretudo em zonas rurais.
O alerta surge após o anúncio do 44.º Curso Básico de Formação de Guardas, que terá início em janeiro próximo, com apenas quatro mil vagas para todo o território nacional. De acordo com a Lusa, o número, segundo Muanambane, é “muito pouco” para suprir as baixas constantes: agentes que já cumpriram 35 a 40 anos de serviço e precisam se aposentar; polícias afastados por doenças crónicas; vítimas de assassinatos e de confrontos com o crime organizado; além daqueles expulsos por conduta imprópria.
“Todos os meses perdemos homens e mulheres da PRM, seja por morte em serviço, por doença, ou mesmo por desvios de conduta. Se não formarmos constantemente, o efetivo vai encolher e as ruas, especialmente nas zonas rurais, ficarão desprotegidas”, alertou Muanambane.
Para o líder da Amopaip, o problema é mais grave fora dos centros urbanos. Nas localidades e postos administrativos, segundo ele, não é incomum encontrar apenas um ou dois agentes responsáveis por vastas áreas, deixando comunidades inteiras vulneráveis a crimes que vão desde furtos e agressões até tráfico e insurgência.
“A segurança não é só para as cidades. As pessoas que vivem no campo também têm direito a proteção. Hoje, muitos só veem polícia quando vão à capital distrital. Isso é inaceitável”, criticou.
Em maio de 2023, o então comandante-geral Bernardino Rafael suspendeu a formação básica para priorizar investimentos em infraestruturas, alegando que o país tinha um número “razoável” de polícias para garantir a segurança por mais uma década.
Para Muanambane, essa decisão foi “contraditória e perigosa”, pois criou um vácuo que agora se tenta preencher de forma apressada. Ele considera que o atual concurso, embora positivo, deveria ser muito mais amplo e regular, garantindo fluxo contínuo de novos agentes.
O porta-voz do comando-geral da PRM, Leonel Muchina, reforçou que as vagas não estão à venda e alertou para o perigo de burlas.
“Quem se envolver em atos de corrupção será responsabilizado. O comando-geral vai abrir canais de denúncia, como fez em processos anteriores”, afirmou Muchina.
O processo seletivo será rigoroso: inclui inspeção médica em novembro, entrevistas no final do mês, auscultação pública em dezembro e divulgação de resultados antes do Natal.