O regresso de Venâncio Mondlane, líder do recém-criado partido Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (ANAMOLA), ficou marcado por momentos de tensão no Aeroporto Internacional de Maputo, na última tarde da segunda-feira (18).
A Unidade de Intervenção Rápida (UIR), braço de elite da Polícia da República de Moçambique (PRM), lançou gás lacrimogéneo contra centenas de apoiantes que se deslocaram ao local para saudar o político. A operação visava, segundo fontes policiais, evitar “aglomerados não autorizados” na zona aeroportuária, mas acabou por gerar cenas de confusão e protestos.
Testemunhas no terreno relataram que a multidão, empunhando bandeiras e entoando cânticos de apoio, aguardava pacificamente pela chegada de Mondlane. No entanto, pouco depois do desembarque, a UIR interveio, dispersando os presentes com disparos de gás lacrimogéneo.
Visivelmente indignado, Venâncio Mondlane não poupou críticas às autoridades, considerando a ação como um ato de intimidação política.
“Há sempre a tendência deste regime de se afirmar como o mais experiente, o mais forte. Mas se é assim, por que razão precisa de recorrer à força bruta para intimidar e afastar as pessoas?”, questionou o político, já no exterior do aeroporto.
A chegada de Mondlane acontece numa fase decisiva para o novo partido. A ANAMOLA já recebeu aprovação formal do Governo, restando apenas a publicação em Boletim da República para se tornar oficialmente uma força política ativa.
Para muitos, o crescimento da figura de Venâncio Mondlane e a criação da ANAMOLA representam um desafio direto ao equilíbrio político nacional, especialmente num momento em que o país se prepara para um ciclo eleitoral determinante.
Apesar da repressão no aeroporto, Venâncio Mondlane manteve um discurso de mobilização, pedindo coragem e firmeza aos seus apoiantes:
“Temos de ser extremamente resistentes. Esta é uma luta muito dura, que exigirá muito de nós. Por isso, volto a pedir coesão, coerência e foco para que possamos avançar”, exortou, reforçando a ideia de que o partido será construído sobre união e sacrifício coletivo.
O episódio no Aeroporto Internacional de Maputo abre mais um capítulo no debate sobre a liberdade de reunião e de expressão em Moçambique. A atuação da UIR já está a ser alvo de críticas por parte de juristas, ativistas e organizações da sociedade civil, que denunciam uma tentativa de “abafar” novas vozes políticas no país.
Ao mesmo tempo, o incidente reforça a imagem de Mondlane como uma figura em ascensão, capaz de mobilizar multidões, mas também de incomodar o poder estabelecido.